mundo do trabalho

Será que temos (realmente) as mesmas 24h? Desmistificando a produtividade

Se você abriu as redes sociais nos últimos dias, deve ter reparado que uma pauta viralizou: todos nós temos as mesmas 24 horas diárias? Ok, à primeira vista, pode não parecer nada fora do normal, mas será que é realmente assim? O que diferencia aqueles que aproveitam tão bem cada uma dessas horas dos que parecem terminar o dia com aquela sensação de não ter feito nada produtivo?


9 min
16 janvier 2024por Gabriela Dias

O mistério parece estar na produtividade - essa ideia de fazer mais em menos tempo. E o perigo é que muita gente confunde o que ela realmente significa. Uma pesquisa conduzida pela página Sua Vaga, entrevistou 1.590 profissionais  e revelou que 76% deles lidam com o que chamam de "paranoia da produtividade" no trabalho.

Para 41% dos entrevistados, essa pressão é vivenciada de forma excessiva, enquanto 35% observam uma abordagem mais moderada em suas empresas. Apenas 24% afirmaram não enfrentar esse problema. Mas por que isso acontece e o que tem a ver com as horas que dispomos na rotina? Principalmente, o que ignoramos quando a gente coloca todas as pessoas nesse mesmo patamar de igualdade?

Vem! A gente está aqui para desmistificar essa história de uma vez por todas.

Afinal, o que realmente é produtividade?

Produtividade é um termo que está ligado à eficiência na realização de tarefas. É a habilidade de atingir seus objetivos de forma otimizada, evitando desperdício de tempo e recursos. Sabe aquela lista diária de afazeres que todos nós temos? Ser uma pessoa produtiva significa completar essas tarefas de maneira eficaz, usando bem o tempo e mantendo a qualidade do que é feito (e nada mais do que isso).

É essencial entender que produtividade não se trata de simplesmente fazer mais coisas, mas, sim, de fazer as coisas certas da melhor forma possível. É uma métrica que avalia o quão bem você e sua equipe conseguem executar as tarefas designadas. E, bem, é claro que isso é super valioso no contexto profissional e pessoal.

Entretanto, a pressão social transformou a produtividade em uma ‘’cultura de hiperestimulação’’, onde a mensagem é que fazer mais é sempre a chave. Mas, na verdade, essa ideia nem sempre é a melhor.

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Privilégios? Viés inconsciente?

Do ponto de vista científico, sem dúvidas todos nós temos as mesmas 24 horas, isso é incontestável. Entretanto, do ponto de vista social e econômico, as coisas não são assim tão simples. 

Se para você esta questão não é tão clara, vamos utilizar como exemplos duas mulheres:

  • Ana, 39 anos, mãe de dois meninos de 5 e 7 anos, empresária, classe média alta. Ela trabalha em casa, e para tocar o seu negócio contratou uma babá e uma empregada doméstica que vão a sua casa cinco vezes por semana.
  • Márcia, 35 anos, mãe de dois meninos de 5 e 7 anos, auxiliar de limpeza, recebe um salário mínimo, pega o transporte público todos os dias e demora cerca de 2 horas para chegar no trabalho. Em casa, ela é a principal responsável pelos cuidados com o lar. 

Ao ler este pequeno exemplo, você realmente acredita que tanto a Ana quanto a Márcia dispõe das mesmas 24 horas para correr atrás dos seus objetivos e dar check em todos os afazeres?

Então, essa ideia de que todos estão no mesmo barco quando se trata do tempo nem sempre bate certo quando a gente olha mais de perto as realidades de cada um. É importante ter em mente essas diferenças antes de escancarar um discurso motivacional que se distancia de qualquer conscientização social.

Na prática, é sobre Diversidade e Inclusão também

O buraco é bem mais em baixo! Estudos como o relatório Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade, conduzido pela Oxfam Brasil, destacam como as mulheres, especialmente em famílias com menor renda, enfrentam uma carga desproporcional de responsabilidades domésticas. 

Cerca de 67 milhões de pessoas se dedicam ao trabalho doméstico globalmente, e 80% delas são mulheres. Elas não só lidam com mais de três quartos do cuidado não remunerado, como também compõem dois terços da força de trabalho que recebe pagamento. Em muitos casos, essas mulheres enfrentam obstáculos adicionais ao tentar equilibrar as tarefas domésticas e buscar oportunidades de crescimento em suas carreiras ou em outras áreas.

Além disso, a inclusão de pessoas com deficiência também é um aspecto fundamental a ser abordado quando discutimos a equidade de tempo e produtividade. O estudo "World Report on Disability", produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ressalta a importância de adaptações no ambiente de trabalho, tanto físicas quanto organizacionais, para garantir que pessoas com deficiência possam realizar suas funções de maneira eficaz e produtiva. 

Quando percebemos essas diferenças, entendemos que a equidade de tempo não se trata apenas das horas disponíveis, especialmente quando algumas pessoas encaram múltiplas jornadas ao longo do dia. E tudo isso explica por que 60% dos brasileiros dormem menos de 7 horas por noite. Nesse sentido, será mesmo que o discurso de "dormir 15 minutinhos no meio do expediente para recarregar a energia" funciona? Ou o certo a se fazer é direcionar a atenção para os desafios e oportunidades que cada grupo enfrenta? Fica a reflexão.

A armadilha da produtividade tóxica 

Quantas vezes você já se viu tentando encaixar uma infinidade de tarefas em um dia de apenas 24 horas? É um dilema que muitos de nós enfrentamos. No entanto, a ideia de que todos têm o mesmo tempo é um mito que pode levar a uma mentalidade de produtividade tóxica.

Uma citação sobre esse tema foi dita por Brigid Schulte, autora do livro "Sobrecarregados: Trabalho, amor e lazer quando ninguém tem tempo": "A pressão para 'fazer mais com menos' é uma armadilha. É como se estivéssemos competindo em uma maratona sem fim, tentando correr cada vez mais rápido, enquanto nossos pés estão presos no lugar".

A realidade é que as pessoas lidam com uma diversidade de situações, desafios e responsabilidades. Cada indivíduo tem uma vida única, com diferentes demandas e limitações de tempo. Enquanto alguns podem ter tempo extra para dedicar ao trabalho, outros encaram obstáculos que consomem suas horas de maneira significativa. 

Schulte ressalta a armadilha de tentar ser cada vez mais produtivo sem considerar as diferentes realidades que as pessoas enfrentam diariamente. Estudos mostram que esse tipo de produtividade prejudica o desempenho e o bem-estar. Isso nos leva a sacrificar noites de sono, a deixar de dedicar tempo de qualidade à família e a abrir mão de hobbies. O que, por sua vez, resulta em estresse, ansiedade e esgotamento.

Felicidade = Produtividade

Você sabia que felicidade no trabalho tem tudo a ver com o resultado da produtividade? E temos como comprovar isso: Um estudo da Saïd Business School intitulado “A felicidade melhora a produtividade do trabalhador?” descobriu que a felicidade pode ter um impacto significativo na produtividade. Os resultados mostraram que os trabalhadores mais felizes eram 12% mais produtivos do que os infelizes. Esse aumento na produtividade pode ser atribuído a vários fatores, como maior motivação, engajamento e criatividade.

E de fato, segundo pesquisas apresentadas pelo Diretor de People da Swile Brasil, Diego Oish, negócios que investem no bem-estar de seus colaboradores experimentam um aumento de 31% na produtividade, 85% em eficiência e um salto de 300% em inovação.

Mas como nem tudo são flores, ainda enfrentamos grandes desafios quando se trata de saúde mental: o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o segundo em síndrome de burnout. Isso acontece porque a cultura corporativa muitas vezes valoriza mais a quantidade do que a qualidade do trabalho, levando as pessoas a trabalharem longas horas, muitas vezes sem um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional. 

Na dose certa

Quando falamos sobre ser realmente produtivo no trabalho, é nítido que grande mudança tem que ser no sistema todo. Mas mesmo se o lugar onde trabalhamos não ajuda muito nisso, ainda dá para fazer coisas que nos ajudem a aproveitar os bons lados da produtividade e chegar a um ciclo bom entre se sentir bem e ser produtivo. Olha só:

Planeje seu tempo

Reserve os últimos dez minutinhos do expediente para listar suas tarefas. Isso ajuda a visualizar o que precisa ser feito e a priorizar as atividades mais importantes. Use aplicativos, agendas ou simplesmente papel e caneta para organizar suas tarefas.

Prepare-se com antecedência 

Deixe sua roupa escolhida, sua mochila ou mala prontas, se for sair, ou organize o ambiente de trabalho se for ficar em casa. Ter tudo pronto economiza tempo e reduz o estresse na correria da manhã.

Ação rápida para tarefas pequenas

Seja responder a um e-mail, fazer uma ligação curta ou resolver um problema simples, realizar essas pequenas tarefas imediatamente elimina a sensação de acumulo de pendências.

Identifique seus melhores momentos

Observe quando você se sente mais alerta e produtivo durante o dia. Pode ser de manhã cedo, após o almoço ou à noite. Use esses momentos para lidar com tarefas mais desafiadoras ou que exigem mais concentração.

Crie brechas

Faça pausas curtas e regulares. Isso não apenas ajuda a evitar o cansaço mental, mas também pode melhorar a eficiência e a criatividade. Use esses intervalos para se alongar, respirar profundamente ou simplesmente relaxar por alguns minutos.

Conecte seu trabalho ao mundo

Pense em como o que você faz ajuda outras pessoas ou causa um impacto positivo. Seja tornando a vida de alguém mais fácil, contribuindo para um projeto importante ou até mesmo inspirando outras pessoas com seu trabalho, encontrar esse propósito pode aumentar sua motivação.

Bônus: Um spoiler para 2024

Segundo uma pesquisa da Ipsos para a cerveja Corona, 70% dos brasileiros já traçaram metas para 2024. Produtividade lidera com prioridade nas finanças, na saúde física e na profissão. Guardar mais dinheiro, investir, praticar mais exercícios ou adquirir hábitos mais saudáveis, ir mais vezes à academia, mudar de emprego e ser promovido são alguns dos exemplos que fazem parte dessas metas. 

Mas, calma! E a diversão? Apenas 16% querem mais tempo ao ar livre e 26%  escolheram o lazer. Saúde mental? Em quarto lugar, com 35%. 

Talvez, no decorrer do ano (e com as dicas citadas neste artigo) as prioridades se ajustem e encontrem um ponto de equilíbrio entre o trabalho árduo e o tempo para si mesmo. Afinal, quem chega ao fim da vida e sente que deveria ter passado mais tempo em reuniões inúteis?

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Gabriela Dias

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Assim como a tinta de uma caneta pode transformar um papel em branco, gosto de pensar que, como conteudista, minhas palavras têm […]

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