Offboarding: a importância de não sair com raiva

Encerrar uma colaboração é como encarar um término, mas não necessariamente precisa ser um drama repleto de lágrimas e ressentimentos. Pelo contrário, o processo de encerramento pode oferecer uma excelente oportunidade de crescimento tanto para as pessoas colaboradoras quanto para a empresa. Vamos descobrir os segredos e a magia do offboarding, aproveitando os benefícios que ele pode proporcionar.

No Brasil, 72,2% das empresas não contam com um treinamento ou capacitação das lideranças sobre a demissão. Além disso, em 45,1% das companhias não há critérios bem definidos para o desligamento. "Aprendemos a dizer bem-vindos, mas não aprendemos a dizer adeus”, diz Daniela Diniz, diretora de Conteúdo e Relações Institucionais da Great Place to Work Brasil.

Cessação de período experimental, fim de contrato a termo certo, demissão, rescisão convencional… são muitos os motivos para sair de uma empresa. De acordo com um levantamento realizado pela Robert Half, com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o Brasil é o país com o maior índice de turnover do mundo.

Na análise, o Brasil registrou 56% de aumento no turnover, à frente de países europeus como Reino Unido (43%), França (51%) e Bélgica (45%).

Segundo Daniela Diniz, esse tema tão temido nas corporações deve ser encarado por líderes e liderados como parte da jornada. 

“Hoje, as carreiras estão cada vez mais curtas. Existem múltiplos tipos de contratos de trabalho, diferentes oportunidades de carreira, com vínculos empregatícios de todos os tipos. Então é importante pensar que a despedida faz parte da jornada de qualquer colaborador

O offboarding é, de fato, um dos pontos altos da experiência do funcionário, da mesma forma que a fase de recrutamento, onboarding ou mesmo promoção interna.

Deixar bons amigos é fundamental. Afinal, não é a mesma situação sair de uma empresa por ter uma oportunidade melhor em outro lugar, do que sair exausto e confuso. É importante entender isso, pois se despedir com raiva pode ser desastroso para a marca empregadora da empresa. O risco? Uma má reputação que se espalha pelo boca a boca, o que afastará futuros candidatos. 

Quando a demissão ocorre da maneira correta, os benefícios são claros: 86,5% das empresas procuradas já recontrataram um colaborador após seu desligamento, o que mostra que uma boa employee experience faz com que o talento deseje retornar à companhia.

Durante as entrevistas de desligamento, alguns departamentos de RH podem ficar sabendo da presença de gerentes tóxicos ou descobrir áreas importantes para melhoria. Além disso, Jullien Brézun, CEO da Great Place To Work, explicou “que você deixa seu chefe mais do que uma caixa” .

O offboarding ganha ainda mais importância considerando que o fenômeno dos empregados bumerangues está se tornando cada vez mais relevante. Mas o que é isso? São pessoas colaboradoras que saem de uma empresa e, alguns anos depois, retornam a ela. É notável que 80% das pessoas que deixaram seus empregos durante a Grande Demissão se arrependem da decisão. Isso reforça a importância de um processo de offboarding bem estruturado e cuidadoso.

O offboarding não se trata apenas de devolver equipamentos e garantir a segurança da empresa. É, acima de tudo, dedicar tempo e consideração ao colaborador que está saindo, evitando com que ele se sinta descartável.

Além disso, o offboarding pode ter um retorno sobre investimento (ROI) indireto em algumas situações. Ao cuidar do processo de saída adequadamente, podemos ter o melhor representante de vendas em mãos. Afinal, por que um ex-colaborador não promoveria um produto que ele já vendia antes? Muitas vezes, essa é a realidade. Portanto, é essencial valorizar o offboarding para aproveitar todas as oportunidades que ele pode trazer para a empresa.

Se a saída da pessoa colaboradora não for de sua iniciativa, explique os motivos de forma clara, sem prejudicá-lo, e comunique-se o mais rápido possível. Anuncie a saída para as equipes e outras partes interessadas sem demora.

Acompanhe o colaborador até o final de suas atividades. Garanta uma boa transferência de conhecimento para o sucessor.

Realize uma entrevista de desligamento entre o gerente, o colaborador e o RH para ouvir feedbacks. Troque recomendações mútuas, se possível.

Cuide dos aspectos logísticos e administrativos da partida, como devolver equipamentos, sobrescrever dados e interromper o acesso ao software. Fornecer informações como saldo de contas, reembolso de despesas e certificado de trabalho também é importante.

Organize uma festa de despedida presencial, agradeça ao colaborador e destaque os pontos positivos de sua carreira na empresa.

Mantenha contato com ex-colaboradores criando uma rede de ex-alunos. Isso pode ser feito por meio de grupos dedicados no LinkedIn, WhatsApp ou Facebook, envio de boletins informativos ou organização de encontros especiais. Manter essa rede pode ser vantajoso para o futuro.

Lembre-se: O offboarding não deve ser visto como uma perda de tempo e dinheiro, mas sim como uma parte importante do ciclo de emprego. Com a crescente tendência dos colaboradores bumerangues e a relevância da marca empregadora, o offboarding é tão significativo quanto o onboarding.