Ser um aliado LGBTI+ é mais que uma questão de inclusão
Promover a inclusão de pessoas LGBT+ no mundo do trabalho parece o básico. Não fazê-la deveria ser até mesmo um problema, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Com esse objetivo, na França, a associação l’Autre Cercle elege anualmente modelos-exemplo para tornar esse tema recorrente no local de trabalho. Conheça dois modelos aliados.
“Se você não é voluntariamente inclusivo, você é involuntariamente exclusivo”. Se você tivesse que se lembrar de apenas uma frase desse artigo, seria essa. Quem a escreveu? Charles Calestroupat, Diretor de Vendas de Contas-Chave, Microsoft França, e Allied Role Model 2023.
Um modelo é “alguém que lidera o caminho”, ele começa de forma simples, antes de explicar o que isso significa em termos práticos: “Não se traduz muito bem em francês, mas eu diria ‘liderar pelo exemplo’. Em francês, isso soa um pouco como dar uma aula, o que eu não gosto. É por isso que eu digo que é mais um caso de dar UM exemplo, de liderar pelo exemplo, para inspirar os outros a fazer o mesmo”.
Para Caroline Garnier, Diretora de RH da SAP França e Marrocos, “ser um modelo a seguir não muda nada no dia a dia”, ela sorri. “Talvez seja mais em termos de outras pessoas que podem vir e falar comigo mais facilmente se precisarem. É abrir os chakras e mostrar que é possível ser você mesmo em um ambiente como o nosso. É importante poder ser autêntico no trabalho", explica a mulher que gerencia mais de 2.500 funcionários somente na França.
O que significa ser um aliado? Qual é o objetivo?
Se nos atermos à definição de fato dada pela Wikipedia, um aliado é “uma pessoa heterossexual e cisgênero que apoia direitos civis e de gênero iguais, movimentos sociais LGBT e desafia a homofobia, a bifobia e a transfobia”. De acordo com a pesquisa realizada pela associação L'autre cercle, 52% dos funcionários poderiam se identificar com essa definição.
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Um número que desafia Charles Calestroupat: “Não sei se isso é bom ou ruim, mas significa que ainda há metade deles a ser convencida... Há trabalho a ser feito. Há uma franja de obstinados que não mudaremos, mas para todos os outros, estou bastante convencido de que é uma questão de conscientização”.
“Quando você é um aliado, você é identificado e pode falar por aqueles que não podem ou não querem falar. Nada pode ser considerado garantido em termos de direitos", alerta Caroline Garnier. “Vi como é difícil falar sobre isso tanto no setor privado quanto no profissional. Havia muitos medos... e às vezes, nem todos eram genuínos”.
Charles Calestroupat concorda: “Sair do armário não é algo que se faz de uma vez por todas. Isso acontece quase todos os dias, e o melhor exemplo são as discussões na máquina de café sobre esconder ou mudar o primeiro nome de seu parceiro. Não quero que as pessoas que trabalham comigo sintam essa dor. Isso me faz querer tomar uma atitude.”
A empresa pode ser neutra sobre o assunto?
A inclusão é necessariamente uma questão de preenchimento de lacunas? A resposta em coro de nossos dois modelos não deixa margem para dúvidas. “A empresa certamente não quer tomar o lugar das autoridades públicas, mas tem uma responsabilidade em termos de inclusão e bem-estar no trabalho”, adverte o diretor da Microsoft, antes de acrescentar: “Quando uma empresa dá o exemplo em termos de diversidade e inclusão, ela também pode ter um impacto mais global na sociedade. Fique em seu lugar, mas faça uma contribuição legítima”.
A história é a mesma na SAP: “A empresa tem um papel a desempenhar, e cada vez mais. Se não estivermos alinhados com nós mesmos, não poderemos dar o nosso melhor”. O diretor de RH acrescentou: “Também gostamos de causar impacto em nosso ecossistema e conscientizar nossos parceiros e clientes sobre outras questões (nota do editor: autismo)”.
Também de acordo com a pesquisa realizada pela l'Autre Cercle, 71% dos franceses acham que as empresas devem fazer todo o possível para promover a inclusão LGBT+. No Brasil, esse número sobe para 74% dos profissionais, que sentem falta de um ambiente de trabalho mais inclusivo. É nesse ponto que os modelos de comportamento são importantes. “A grande maioria quer ser inclusiva, mas muitas vezes há erros e falta de conscientização. Um modelo a seguir informará e gerará discussões sobre o assunto", insiste Charles Calestroupat.
Caroline Garnier, Diretora de RH, também ressalta que “a discriminação não é tão incomum. Às vezes, as pessoas nos perguntam se estamos fazendo demais. Eu digo a elas: 'Se você está se perguntando, é porque não estamos fazendo muito'. Estimular a discussão incentiva o intercâmbio e, portanto, a conscientização”. E, por extensão, a inclusão.