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Por um mundo do trabalho possível e justo para as mães

Em pleno século XXI, a maternidade ainda é um tema sensível no mercado de trabalho e tem sido objeto de debates e discussões crescentes. As mães que desejam equilibrar suas responsabilidades profissionais com a criação de filhos muitas vezes enfrentam desafios significativos, refletindo a necessidade de uma transformação nos ambientes de trabalho e nas políticas corporativas.


6 min
6 mars 2024por Aline Souza

Historicamente, as mulheres têm sido confrontadas com a chamada "penalidade da maternidade" nos ambientes corporativos, enfrentando preconceitos e obstáculos que podem afetar suas oportunidades de carreira. Questões como a falta de licenças de maternidade adequadas, a ausência de políticas flexíveis de trabalho e a persistência de estereótipos de gênero contribuem para essa penalidade.

Quando se considera a realidade da Mulher no mercado de trabalho, é possível notar uma incrível disparidade com relação aos homens neste mesmo contexto. Segundo dados do IBGE, a mulher estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que o sexo masculino. As mulheres ganham, em média, 76,5% do rendimento dos homens e combinando-se as horas de trabalhos remunerados com as de cuidados e afazeres, a mulher trabalha, em média, 54,4 horas semanais, contra 51,4 dos homens.

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E a realidade das mães, segundo a FGV é a seguinte: “a queda no emprego se inicia imediatamente após o período de proteção ao emprego garantido pela licença (quatro meses). Após 24 meses, quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade está fora do mercado de trabalho, um padrão que se perpetua inclusive 47 meses após a licença. A maior parte das saídas do mercado de trabalho se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador”

Mães e profissionais, papéis conectados e possíveis

Algumas empresas e organizações estão começando a reconhecer a importância de criar ambientes de trabalho mais inclusivos para as mães. A implementação de políticas de licença maternidade estendida, a promoção de opções de trabalho flexíveis e a criação de espaços de creche no local são algumas das práticas que visam apoiar mães que desejam manter uma carreira profissional.

Um exemplo bem emblemático, que teve grande repercussão, foi a contratação de uma mulher grávida pela empresa multinacional Philip Morris Brasil. Em entrevista à Revista Época, a gerente de Agronomia, Erika Barbosa, menciona que: “A resposta foi, literalmente, um parabéns genuíno. Me senti acolhida e valorizada, não apenas como profissional, mas também como mulher e, agora, mãe”.

No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer. Diariamente, há relatos de mulheres que não têm nem a chance de ingressar em uma organização, pois já são barradas no processo seletivo. Testemunhos de mães que são questionadas sobre a quantidade de filhos e o quanto esta responsabilidade vai “atrapalhar” no dia-a-dia de trabalho. Existem alguns profissionais que conduzem seletivas completamente despreparados, enquanto outros estão refletindo uma cultura organizacional preconceituosa e repleta de vieses provenientes da alta liderança. Consequentemente, toda essa realidade estampa a frustração e até mesmo a desistência de muitas mulheres ao tentar conseguir uma oportunidade de trabalho.

Quando fazemos o recorte para mães solo, são mais de 11 milhões de mulheres criando os filhos sozinhas no Brasil (Fundação Getúlio Vargas). E, sim, 90% dessas mulheres, nesse contexto entre 2012 e 2022, são negras. Como não falar sobre rede de apoio e segurança psicológica na busca por um trabalho fixo e jornadas mais flexíveis?

Liderando como uma mãe

Importante salientar que, neste mundo extremamente volátil, o desenvolvimento de habilidades comportamentais específicas contribui imensamente para o bom desempenho profissional. Partindo deste pressuposto, a maternidade traz à mulher diversas skills que são amplamente demandadas e valorizadas. Um estudo da Federal Reserve Bank revelou que mães são mais produtivas, pois não abrem espaço para a procrastinação, aumentando sua eficiência. Outra pesquisa realizada pela Microsoft atesta que mães gerenciam melhor o tempo e conseguem realizar várias tarefas simultaneamente de forma muito natural.

Sem contar a capacidade de liderança, empatia e compreensão. Mães frequentemente desenvolvem uma sensibilidade única para as necessidades e preocupações dos outros, promovendo um ambiente de trabalho mais inclusivo e colaborativo. A capacidade de conectar-se emocionalmente com membros da equipe fortalece os laços e fomenta um clima organizacional positivo. A comunicação eficaz é outra faceta crucial da liderança maternal. Ao interagir com seus filhos e outras mães, as habilidades de comunicação são aprimoradas, possibilitando transmitir de forma clara e coesa as suas visões e expectativas. Com essa mentalidade estratégica na liderança, as decisões tomadas não consideram apenas o presente, mas também as implicações a longo prazo.

O que empresas podem fazer para acolher a maternidade?

1 – Processo Seletivo: É crucial que a seletiva seja baseada nas competências que são exigidas para o cargo, conforme consta no descritivo de vaga. Ou seja, perguntas de cunho pessoal, como ter ou não filhos, se tem ou não residência própria, ou outras questões que nada interferem no processo seletiva devem ser descartadas.

2 - Políticas de Licença Maternidade e Paternidade: Oferecer políticas de licença maternidade e paternidade flexíveis e abrangentes, reconhecendo a importância do papel dos pais nos cuidados com os filhos.

3 - Programas de Retorno ao Trabalho: Implementar programas que facilitem o retorno das mães ao trabalho após a licença maternidade, incluindo planos de retorno gradual, horários flexíveis e suporte para adaptação às novas demandas.

4 - Espaços para Amamentação: Criar espaços adequados e privados para amamentação ou extração de leite, demonstrando o comprometimento da empresa em apoiar as mães que escolhem continuar amamentando após retornarem ao trabalho.

5 - Flexibilidade de Horários: Oferecer flexibilidade de horários, opções de trabalho remoto ou jornadas flexíveis para permitir que as mães conciliem melhor suas responsabilidades familiares e profissionais.

6 - Programas de Desenvolvimento Profissional: Investir em programas de desenvolvimento profissional contínuo para garantir que as mães tenham oportunidades de avanço na carreira, mesmo durante períodos de licença maternidade.

7 - Rede de Apoio e Mentoria: Estabelecer redes de apoio e programas de mentoria que conectem mães que compartilham experiências similares, proporcionando um ambiente de suporte e troca de conhecimentos.

8 - Cultura de Aceitação e Respeito: Promover uma cultura organizacional que valorize a diversidade e crie um ambiente inclusivo, livre de preconceitos e estigmas associados à maternidade.

A integração bem-sucedida da maternidade no mercado de trabalho exige um esforço coletivo de governos, empresas e sociedade para criar um ambiente que promova a igualdade de oportunidades, apoie a diversidade e reconheça o valor inestimável que as mães trazem para o cenário profissional.

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Aline Souza

Especialista em Gente e Gestão

Especialista em Gente e Gestão, Professora Universitária, Apresentadora, Palestrante, HR Influencer no LinkedIn com uma rede de mais de 600 mil seguidores.

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