mundo do trabalho

Por que falar de orgulho no trabalho?

O que sentimos quando nos conectamos com o orgulho? Devolvemos a vergonha, o medo e a culpa de ser quem somos, de […]


4 min

O que sentimos quando nos conectamos com o orgulho? Devolvemos a vergonha, o medo e a culpa de ser quem somos, de volta para o armário e assumimos um lugar de pertencimento. Algo tão necessário para a segurança psicológica, o bem-estar e a construção de conexões. E, olha só, nem estamos falando só de pessoas LGBTQIAPN+. Mas, certamente, esse é um lugar de identificação para quem desafia um sistema que ainda colabora, diariamente, para a rejeição e a discriminação fora e dentro do trabalho.

Colocando mais cor nos números, a gente consegue entender melhor. Isso porque 61% dos profissionais LGBTQIAPN+ não se assumem no trabalho com medo de perder o emprego. Há motivos por trás disso. Afinal, o percentual de empresas que têm restrições para contratar pessoas queer, ou seja pertencente a essa comunidade, chega a 38%. E apesar dessa preocupação que boa parte das pessoas LGBT+ convive todos os dias, para manter uma “vida dupla” entre quem são e quem eles podem mostrar que são, as barreiras visíveis e invisíveis ainda persistem. “Parecer” é o suficiente.

Um modo de falar, um gesto, uma aparência, qualquer pode ser o motivo para que gestores mal preparados (ou até mesmo, infelizmente, mal intencionados) reproduzam estereótipos que reforçam uma cultura de repressão que chega a ser exaustiva. A “síndrome do Fantástico”, quando vai acabando o domingo e lembramos da hora do expediente, pode ser ainda mais aguda para quem não sabe, de fato, em qual momento da semana pode relaxar contra micro e macro agressões rotineiras. São as pessoas transgêneros e não-heterossexuais que possuem os piores indicadores de saúde mental no Brasil (Instituto Cactus e AtlasIntel). 

O preconceito tem vieses e afeta todo mundo

Rótulos e preconceitos existem porque há um padrão heterocisnormativo dominante. Parece tão complexo quanto abrir letrinha por letrinha da sigla LGBTQIAPN+, mas não é. Por “hetero” e “cis”, pode-se entender um lugar dominado por pessoas que se relacionam afetivamente por gêneros opostos e que se identificam aquele gênero que lhe foi designado assim que nasceram. E se engana quem pensa que isso afeta apenas lésbicas, gays, transgêneros, travestis, intersexo e mais. Se há discriminação, ela cria uma cultura que impacta todo mundo.

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É um efeito-dominó. Quando uma mulher cis e heterossexual, por exemplo, escuta piadinhas por conta da voz mais grossa ou das roupas menos delicadas, ou se um homem cis e hetero usa roupas cor de rosa, essas pessoas também podem lidar com um dos vieses do preconceito. A grande diferença é que, sem empatia, eles jamais irão compreender as consequências de frases como “seja mais homem!”, “você nem parece trans” ou “tudo bem ser lgbt, mas não precisa contar para ninguém” para quem precisa bater metas tão quanto eles. 

Mas qual o $$$$ do orgulho?

Uma pesquisa da GPTW foi atrás de investigar o valor do orgulho para uma empresa. Essa sensação de apreço, de reconhecimento, de “vestir a camisa” de onde você trabalha. Em tempos que falamos tanto sobre felicidade no trabalho, saúde mental, cultura organizacional e engajamento, o orgulho ganha os biscoitos. Se um profissional se sente orgulhoso do lugar que está, ele tem seis vezes mais chances de recomendar seu ambiente de trabalho para outras pessoas, duas vezes mais de querer permanecer na empresa por muito tempo e uma vez a mais de dizer que esse é um ótimo lugar para trabalhar.

O desafio para quem não olha para diversidade, equidade e inclusão, também para pessoas LGBTQIAPN+, mora aí. Em não estimular o senso de pertencimento e orgulho, criando ambientes mais seguros para as pessoas serem quem são e produzirem mais e melhor. “Ah, mas esse é um assunto sensível e delicado…”. Sim, mas não porque não há dados que mostrem como negócios podem e devem ser parte dessa conversa. Décadas e décadas depois, a falta de representatividade em espaços de mídia, posições de liderança ou mesmo presença no próprio ambiente corporativo, ainda é algo visível. A capa de invisibilidade cabe em corpos bem específicos. 

Esse contexto quase invisível fica evidente quando olhamos para números que mostram que 49% dos brasileiros heterossexuais consideram o país LGBTfóbico. Um percentual que sobe para 75% quando os entrevistados são pessoas LGBTQIAPN+, segundo o LinkedIn. A falta de percepção fora da comunidade para as violências e os vieses inconscientes que levam à discriminação é decisiva para que se ignorem perspectivas importantes como o papel das pessoas aliadas na transformação dos negócios. 

Se criar ambientes de trabalho mais seguros, com bem-estar, senso de pertencimento e satisfação para todas as pessoas, permite aumentar a produtividade, diminuir o turnover, gerar mais valor para as empresas, por que ainda vemos uma baixa representatividade e tanto preconceito? 4 em cada 10 pessoas LGBTQIAPN+ já relataram algum tipo de discriminação durante o expediente, um número que cresceu desde a última pesquisa realizada em 2019. Falar sobre orgulho é, assim, reafirmar a importância de ter ferramentas de combate a essa realidade.

Lucas Ericlyn

Editor de Conteúdo

Sou um conteudista apaixonado pelas palavras, cultura e inovação. Aposto nos artigos e nos textos como um esportista nas suas habilidades, um […]

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