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Mulheres no trabalho: o que as séries nos contam?

Qual é a imagem das mulheres no trabalho que vemos nas séries? Espelho do cotidiano, as séries mostram muito sobre como a situação das mulheres no ambiente profissional evoluiu ao longo do tempo e como a sociedade vê o papel delas no trabalho.


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Amanda Woodward, Meredith Grey e Annalise Keating. O que essas três personagens fictícias têm em comum? São muito trabalhadoras! Mas cada uma com sua maneira, e em sua área de atuação: diretora de agência de publicidade, cirurgiã e advogada, essas heroínas – que aparecem em séries desde os anos 90 até os dias de hoje – representam diferentes aspectos do trabalho feminino em diferentes momentos, mostrando como as coisas mudaram ao longo do tempo.

A figura da menina trabalhadora

Hoje em dia, não pensamos mais tanto na figura da mulher patroa, que foi bastante desgastada nos últimos anos. Em vez disso, destacamos a figura da mulher trabalhadora, que é como uma versão anterior dela. Nas séries dos anos 80 e 90, ela é essencialmente enfatizada: é aquela mulher que valoriza sua carreira mais do que sua vida pessoal, e está determinada a encontrar seu lugar em um ambiente predominantemente masculino.

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Um exemplo claro dessa representação é Amanda Woodward de Melrose Place, que personifica essa determinação. Ela está disposta a fazer o que for necessário, até mesmo jogar sujo, para alcançar uma posição mais elevada. Ela busca não só ganhar muito dinheiro, mas também é vista como dominadora devido ao seu papel importante no trabalho, refletindo isso em sua vida pessoal.

Essa figura é altamente respeitada, pois representa uma mulher que desafia as expectativas sociais e luta para conquistar seu lugar entre os homens. Mas um personagem que muitas vezes não tem muitas nuances, é bastante retratado de forma simplista e exagerada seu trabalho é sua vida.

A supermulher que administra sua carreira e vida pessoal

Durante muito tempo, para uma mulher ter sucesso no trabalho, de acordo com a imagem popularizada da mulher trabalhadora, significava ser firme, sacrificando sem demonstrar emoções as relações sociais, os hobbies e até a família, em prol de um trabalho ao qual se dedicava totalmente. No entanto, na década de 2000, uma nova tendência surgiu nas séries: a de uma mulher que valoriza tanto sua vida conjugal e familiar quanto sua carreira. Você percebe a dualidade chegando?

Nesse sentido, Grey's Anatomy exemplifica perfeitamente esse dilema que as mulheres enfrentam. A série aborda de forma direta as questões de desigualdade de gênero, mostrando estagiárias e cirurgiãs discutindo disparidades salariais, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, suas ambições de alcançarem cargos de liderança e até mesmo a rivalidade com homens que possuem mais oportunidades ou um nível profissional mais elevado.

Ter sucesso no trabalho ou ser realizada, você tem que escolher

Na narrativa de muitas séries, há uma representação bastante clara das mulheres que são focadas na carreira: aquelas que, historicamente designadas para os afazeres domésticos, são vistas como tendo algo errado em suas vidas pessoais por escolherem seguir uma carreira. "Se ela é solteira, então deve ser uma fracassada na vida pessoal. Se não tem filhos, é considerada uma fracassada. E se luta contra o alcoolismo ou outras dependências, também é estigmatizada.’’

Essa dualidade entre sucesso profissional e realização pessoal é frequentemente retratada como uma escolha que as mulheres têm que fazer: ter sucesso no trabalho ou ser realizada na vida pessoal. No entanto, essa narrativa é redutora e desconsidera as muitas mulheres que conseguem equilibrar ambas as áreas de suas vidas de maneira satisfatória.

Rumo a personagens femininas complexas

Ao longo de cerca de uma década, as séries se libertaram da visão simplista da mulher bem-sucedida, que antes era retratada como ou uma "mulher masculina" focada apenas no trabalho, ou uma "supermulher" capaz de equilibrar perfeitamente vida profissional e pessoal, mesmo que isso não seja realista. 

Em vez disso, estamos começando a ver personagens femininas mais complexas, com suas próprias falhas e dificuldades, enquanto ainda são dedicadas à carreira. Um exemplo disso é Annalise Keating, a advogada de defesa criminal da série "How To Get Away With Murder".

Annalise Keating é uma personagem fascinante que desafia estereótipos. Além de ser uma advogada de defesa criminal de sucesso, ela também lida com uma série de desafios pessoais. Ela enfrenta problemas de saúde mental, é alcoólatra e carrega consigo muitos traumas do passado. No entanto, é interessante observar como, apesar de toda essa bagagem pessoal, ela consegue manter um certo controle em seu trabalho.

Diferentemente do clichê da "mulher revoltada", Annalise não se encaixa nesse estereótipo. Em vez disso, sua determinação e controle no trabalho parecem mais resultado de uma sensação de não ter escolha. Ela é uma mulher que enfrenta muitas dificuldades, mas ainda assim se esforça para seguir em frente e alcançar seus objetivos profissionais. Essa complexidade torna Annalise uma personagem ainda mais cativante e multidimensional.

Uma força de caráter e uma ambivalência semelhante são encontradas na personagem de Miranda Bailey em Grey's Anatomy. Vemos sua evolução, desde uma estagiária muito tímida que não queria chamar a atenção, até se tornar chefe do hospital. O que também é interessante é que sua relação com sua posição de liderança não é unilateral: em certo momento, ela decide abrir mão desse cargo para cuidar de sua saúde mental, reconhecendo que sua carreira não é a única prioridade em sua vida.

Isso mostra um equilíbrio saudável entre alguém dedicado e talentoso em seu trabalho, mas que também tem seus próprios desafios e lutas pessoais, incluindo problemas de saúde mental e enfrentamento do racismo. É importante destacar trajetórias que não se limitam apenas ao aspecto profissional.

E se mostrássemos a vida real?

Longe das telas, mulheres de todas as origens e profissões enfrentam obstáculos como discriminação de gênero, disparidades salariais, dificuldades no equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e a pressão de atender às expectativas sociais.

Na vida real, não há roteiristas para garantir um final feliz ou um clímax emocionante. Em vez disso, as mulheres precisam navegar por ambientes de trabalho muitas vezes hostis, onde suas contribuições são subestimadas e suas ambições são questionadas. E, ao contrário das personagens de séries de TV, não podem simplesmente desligar as câmeras quando a pressão se torna insuportável.

A realidade é que as mulheres precisam ser não apenas trabalhadoras dedicadas, mas também defensoras incansáveis de seus próprios direitos e dignidade. Elas precisam lutar por igualdade de oportunidades, por respeito no ambiente de trabalho e por reconhecimento de seu valor e habilidades.

Portanto, ao olharmos para além das telas das séries, devemos nos perguntar: como podemos reconhecer e apoiar as mulheres em suas jornadas profissionais da vida real? E, mais importante ainda, como podemos nos esforçar para criar um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo e igualitário, onde todas as mulheres tenham a oportunidade de prosperar e alcançar seu pleno potencial? Fica a reflexão.

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Gabriela Dias

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Assim como a tinta de uma caneta pode transformar um papel em branco, gosto de pensar que, como conteudista, minhas palavras têm […]

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