Mentoria reversa: quando os juniores ensinam os seniores
Quando uma pessoa jovem orienta alguém mais experiente, chamamos isso de mentoria reversa. Inicialmente, essa prática era usada para ensinar idosos sobre novas tecnologias, mas ao longo do tempo, evoluiu para ser uma ferramenta valiosa para promover a compreensão entre diferentes gerações.
Hoje em dia, a mentoria reversa também influencia positivamente o núcleo das empresas, trazendo benefícios para todos os envolvidos.
Quando um jovem orienta uma pessoa mais velha
A diferença entre os indivíduos na faixa dos vinte e poucos anos e aqueles na faixa dos trinta e poucos anos vai além de simples escolhas de aplicativos ou séries de TV em plataformas digitais. Essa lacuna é mais profunda e se relaciona com a forma como eles encaram o mundo e o trabalho.
Essa diferença representa um verdadeiro desafio para as empresas, que precisam aprender a funcionar de forma harmoniosa com cada geração. O objetivo é evitar a criação de divisões e combater a falta de autoestima. Para enfrentar esse desafio, o mentoring tem sido uma ferramenta altamente valorizada por grandes empresas ao longo das décadas. Embora estejamos familiarizados com sua versão mais clássica, na qual um profissional sênior orienta um jovem, conhecemos menos sobre o conceito de mentoria reversa. Como o próprio nome sugere, nesse cenário, é um jovem que orienta um veterano ou pessoa mais experiente.
Nunca é cedo ou tarde para aprender
O conceito de mentoria reversa surgiu em 1999, quando o presidente da General Electric na época, Jack Welch, solicitou a uma equipe de executivos que encontrasse jovens colaboradores para ensiná-los a navegar na internet. Ao longo de 20 anos, essa prática foi aperfeiçoada e agora é adotada por grandes corporações globais.
No Brasil, a mentoria reversa ainda é mais comum em subsidiárias de empresas globais e em companhias que apoiam startups.
“Estamos falando de companhias abertas à inovação, às novas tecnologias e aos novos negócios. Também são empresas que têm práticas inovadoras de recursos humanos, o que faz com que a mentoria reversa seja adotada sem muitas mudanças em suas rotinas”, esclarece o presidente da ABRH-Brasil, Paulo Sardinha. “A mentalidade de trabalhar de forma inovadora, de gerenciar grupos, é o fundamento da mentoria reversa, a fim de desobstruir canais de comunicação dentro da empresa, permitindo que os mais jovens compartilhem seus conhecimentos”, completa.
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“Mentoria reversa” para construir lealdade
Em uma entrevista à Harvard Business Review, Kayla Kennelly, uma das primeiras mentoras da Pershing nos Estados Unidos, destacou que o CEO da empresa tinha como principais preocupações perguntas como: "Como me conectar com as gerações mais jovens?" e "Como faço para atrair e reter jovens talentos?". Embora a tecnologia fosse importante, ela não estava no topo da lista de prioridades nos aprendizados entre mentores e aprendizes.
Estudos realizados internamente pela Pershing revelaram que a mentoria reversa teve um impacto significativo na retenção dos jovens mentores, atingindo uma taxa de 96% na primeira fase. Ao assumirem o papel de mentores para uma população de gerentes experientes, os mais jovens se sentiram verdadeiramente empoderados, desafiando a tradição, que geralmente atribui essa função aos mais velhos. Além disso, essa abordagem permitiu que eles estabelecessem conexões com profissionais de alto escalão, impulsionando suas carreiras de forma acelerada.
Trabalho em dupla
Para que a mentoria reversa funcione bem, tanto o mentor quanto o aprendiz precisam estar dispostos a trabalhar juntos. Ambos podem se beneficiar de um pouco de preparação antecipada para eliminar quaisquer preconceitos, medos ou hesitações que possam ter em relação a essa experiência. Por exemplo, um executivo de 50 anos pode ter receios em revelar suas fraquezas a alguém mais jovem.
Paulo Sardinha afirma que a mentoria reversa também pode ser útil para romper paradigmas dentro das empresas. “As organizações têm uma dificuldade natural de enfrentar mudanças, e isso é quase universal. É comum ouvir expressões como ‘no meu tempo era assim’, ‘isso já foi tentado e não trouxe resultados’ ou ‘isso não adianta fazer’. Então, soluções novas precisam de respostas novas. A mentoria reversa é uma forma de se buscar essas respostas”, diz.
Ele destaca ainda que a adesão deve ser espontânea e contar com pessoas que tenham o que comunicar, o que transmitir em termos de conhecimento, assim como pessoas dispostas a aceitar o contraditório: o mais novo ensinando o mais velho – no caso, mentor e mentorado.
Comunicação é a chave
Com a mentoria reversa, trata-se de trazer uma verdadeira mudança cultural dentro da empresa. “Mentoria reversa exige que empresas estejam abertas para contrariar o fluxo natural de autoridade e hierarquia dentro da corporação. A empresa tem que estar muito bem preparada para ouvir, entender e comunicar”, alerta Paulo Sardinha.
Essa postura de abertura e diálogo é fundamental para criar um ambiente propício ao aprendizado mútuo, onde mentor e aprendiz possam se beneficiar do compartilhamento de conhecimentos e experiências.
A mentoria reversa é uma oportunidade única para promover a colaboração entre diferentes gerações, impulsionar a inovação e alavancar o desenvolvimento profissional de todos os envolvidos na empresa. Portanto, investir na comunicação e na receptividade a novas ideias é essencial para o sucesso dessa prática transformadora.
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