mundo do trabalho

“E o salário, ó…”: no futuro, IA pode mexer no bolso ao final do mês? 

Já reparou nas vagas relacionadas com competências em IA nos últimos meses? O salário deve chamar a atenção. Segundo dados do Glassdoor, […]


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Já reparou nas vagas relacionadas com competências em IA nos últimos meses? O salário deve chamar a atenção. Segundo dados do Glassdoor, chega a mais de 10 mil reais a média para profissionais da área no Brasil e isso não é estranho quando olhamos para a corrida por talentos qualificados. Essa não é a realidade de outros empregos que podem ser ainda mais desvalorizados com a chegada da IA na rotina. Mas, enquanto muitos debates ainda giram em torno de empregos que serão “substituídos” pela tecnologia, não seria a hora de olhar também para os efeitos da IA sobre a renda de muitos setores?

Numa pesquisa com 3 mil gerentes realizada nos Estados Unidos, quase metade das pessoas entrevistadas afirmaram que a Inteligência Artificial poderá representar uma "oportunidade para diminuir os salários". Com ferramentas automatizadas reproduzindo trabalhos cada vez mais próximos da linguagem humana, muito mais rápido, a reação provocada pela adoção ampla da tecnologia no dia a dia pode ter um efeito redistributivo

O de cima sobe e o de baixo desce?

Segundo o economista Carl-Benedikt Frey e o engenheiro Michael Osborne, ambos professores da Universidade de Oxford e autores de um dos mais importantes trabalhos acadêmicos sobre automação no mundo do trabalho (publicado em 2013 e revisitado em 2023), as perspectivas não mudaram, mas foram amplificadas com a IA Generativa. O desenvolvimento possibilitado pela última década de inovações colocou o profissional do futuro em posições onde se diminuem as barreiras de entrada para empregos antes fora do radar. 

Essa ideia parece fazer bastante sentido. Isso porque a tecnologia já está ajudando pessoas, como recrutadores, a terem rotinas mais eficientes: segundo o LinkedIn, 57% delas afirmam que a IA permite escrever descrições de vagas de forma mais rápida e fácil e 42% que ela elimina as tarefas mais burocráticas e manuais. Para além disso, há especialistas bastante otimistas sobre o impacto da IA como a “primeira tecnologia a beneficiar a classe média de trabalhadores”, ou seja, com o acesso generalizado da Inteligência Artificial na criação de processos mais automatizados, profissionais que antes não tinham capacitação necessária para tomada de decisões de alto risco poderão desfazer obstáculos através da tecnologia. 

A redação recomenda

Quem afirma isso é David Autor, pesquisador e professor do MIT, com décadas de estudos que investigaram como a tecnologia e a globalização refletem os contrastes nos salários e o crescimento de empregos e posições de baixa remuneração. Para ele, a IA Generativa não só aumenta a produtividade, como expande a acessibilidade, antes comprometida pela demanda por diplomas universitários, a trabalhos mais valiosos ao juntar força com o profissional. Dessa forma, a tecnologia poderia elevar mais trabalhadores à classe média. 

E, aqui, é possível observar algo curioso: ainda que a IA Generativa tenha desafios enormes quanto aos vieses inconscientes, as suas possibilidades de criação e geração de conteúdo, de forma inteligente e bem utilizada, poderiam contribuir para a acessibilidade de grupos sub-representados? Isso dependerá de alguns fatores, dentre eles: se os empregadores estão incentivando o treinamento em competências de IA para todas as pessoas, se a aplicação das ferramentas não está sendo feita apenas pela pressa para se adaptar ao mercado, se há intencionalidade. Ou seja, pode ser um grande desafio. Mas por que não?

IA aumenta a produtividade, mas também a concorrência

É aí que alguns especialistas concordam, já que para eles a IA permite que profissionais menos qualificados possam encarar jobs mais competitivos e aumentar a concorrência nesse mercado. O que, em tese, reduziria o salário médio. Mas essa é uma matemática mais complexa do que parece, já que a IA se apresenta em um estágio de múltiplas possibilidades de aplicação e geração de novas demandas. Então, esse pode ser apenas um dos muitos cenários possíveis. 

Um outro ponto para ficarmos atentos é que esse acesso não necessariamente representa profissionais mais qualificados. O uso das ferramentas na rotina de forma mais intensificada, ao mesmo tempo que amplia novas habilidades, também pode significar um desestímulo à aprendizagem com a simplificação de algumas tarefas. Isso, é claro, para as pessoas que não utilizam a IA de maneira realmente inteligente e estratégica. O pulo do gato, então, está em como aliar a capacidade de automatizar e gerar mais valor no aprendizado de outras habilidades. 

É a história do famoso “depende do ponto de vista”. A IA Generativa deve ser percebida como mais uma ferramenta tecnológica complementar do que uma mobilizadora do fim de outras oportunidades de emprego. Isso porque a gente sabe bem como, no dia a dia, a sobrecarga de trabalho e o acúmulo de papéis pode impactar negativamente a dedicação de tempo ao que há de mais valioso e estratégico, o que provoca, realmente, uma progressão de carreira. Nesse ponto, é onde a gente consegue entender que a IA, por si, não tem impacto direto no aumento dos salários, mas pode ser um motor de crescimento. Para quem souber usá-la bem. 

Esse filme, a gente já conhece

Chegam as inovações, o mercado se transforma e o ciclo continua. Adaptar-se a tudo isso demanda equilíbrio e isso faz com que aqueles que já entenderam a mensagem saiam na frente. Não à toa, fala-se tanto sobre habilidades como pensamento analítico, criativo, resiliência ao lado de habilidades técnicas. É no fator humano e nas soft skills que mora o aprimoramento da jornada de carreiras. Porém, a Inteligência Artificial será uma aliada gigante. 

Depende de nós e do incentivo à aprendizagem contínua pelas empresas com treinamentos qualificados e construção da confiança. É um cenário complexo que precisa também da mobilização de todos os setores da sociedade, para se diminuírem os riscos éticos e nocivos aos trabalhadores. Mas, para isso, é necessária uma mudança de mentalidade. O filme, a gente já viu muitas vezes com diferentes protagonistas. O final é que pode ser surpreendente e, vale dizer, muito positivo.

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Lucas Ericlyn

Editor de Conteúdo

Sou um conteudista apaixonado pelas palavras, cultura e inovação. Aposto nos artigos e nos textos como um esportista nas suas habilidades, um […]

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