Incluir não é só chamar para dançar
Provavelmente isto também acontece contigo: seja em congressos, lives ou reuniões sempre ouço a mesma frase… “Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar”, de autoria de Vernā Myers, vice-presidente de Inclusão na Netflix.
No Linkedin, esta reprodução ocorre várias vezes ao dia. Entendo o conceito e a intenção positiva mas, como jornalista e consultor de diversidade etária, tomo a liberdade de fazer algumas reflexões.
Acompanhe o meu raciocínio:
- Quantas vezes acontece essa tal festa? No mundo corporativo, essa referência é comparada a algo pontual, a algum evento esporádico?
- Quanto tempo o convidado a ser “incluído” ficará na pista de dança? Duas, três horas?
- Esse convite foi algo espontâneo do organizador, a ideia partiu dos convidados ou foi devido a alguma atitude semelhante que aconteceu em outros locais e o realizador se sentiu na obrigação de repetir?
Será que de fato é assim que a banda deve tocar? Se a inclusão não for decorrente da vontade genuína e de uma cultura enraizada no grupo todo, todos podem acabar dançando. E, de manhã, estarão de ressaca...
- A verdadeira integração é consequência da valorização e do empoderamento.
- Não tem sentido convidar apenas para agradar; antes vem a conscientização.
- Não basta apenas letrar; é imprescindível ter uma agenda contínua.
Chamar para a festa ou para a dança não é suficiente
É preciso tornar cada momento de convivência positivamente memorável! Incluir é respeitar, acolher e motivar o convidado. No dia a dia. Melhor ainda: é transformá-lo em coorganizador! É acreditar no potencial e incentivá-lo com ações concretas. É variar a música para diversificar e desafiá-lo construtivamente.
Neste sentido, trago mais um ponto para a sua análise: como ficam aqueles que se sentem invisíveis nas baladas? Vamos imaginar o caso específico dos profissionais 40+.
- Há treinamentos de atualização para as suas necessidades específicas?
- Que benefícios corporativos estão sendo contemplados que ofereçam mais tranquilidade aos profissionais desta faixa etária?
- Como estão as trocas geracionais, por exemplo, através de mentorias e hackathons?
- Como está o processo para a formação de líderes e a preparação em termos comportamentais?
Em 2023, 7,3 milhões de brasileiros deixaram voluntariamente seus empregos (fonte: LCA Consultores). Pesquisas desenvolvidas este ano de forma individualizada pela FIA Business School, Gupy, LinkedIn e Catho chegaram às mesmas conclusões sobre os principais motivos: o salário e os benefícios insatisfatórios; a falta de reconhecimento, de desafios e de oportunidades de crescimento; o ambiente de trabalho tóxico e a pouca flexibilidade e autonomia.
Nenhuma surpresa. Mas, se a intensa rotatividade gera custos elevadíssimos, por que o mercado não age? E ainda culpam o salário e os benefícios dos 40+ para não convidá-los para a confraternização? Justamente os profissionais mais leais, que possuem rica vivência, imensa bagagem, que já participaram de todos os tipos de dança e têm um jogo de cintura invejável? É essa a postura organizacional?
A redação recomenda
Há alguns dias, a ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) e a empresa de tecnologia Umanni divulgaram a terceira edição da pesquisa “O Cenário do RH no Brasil”, realizada com cerca de 900 profissionais de Recursos Humanos. Para os entrevistados, os principais desafios são: Cultura Organizacional (51%), Desenvolvimento de Liderança (49,6%), Automação dos processos de RH (49,4%) e Desenvolvimento dos Colaboradores (28%).
Outro relatório “State of the Global Workplace”, publicado em 2023 pelo Gallup, constatou que 60% dos profissionais não estão enxergando propósito nas tarefas que têm executado. Diante destes dados, a especialista Beatriz Cara Nóbrega, Chief Human Resources Officer, recomenda um alinhamento no processo de atração e seleção das empresas com a cultura organizacional, bem como investir no desenvolvimento profissional.
Ela enfatiza: “Nenhuma empresa sobrevive ao alto turnover. Temos que ser proativos em encontrar estratégias eficientes para formar e nutrir equipes que superem suas metas, com saúde e felicidade. Além disso, é necessário explorar o poder da liderança inspiradora e ter uma comunicação eficaz para alimentar o engajamento e a motivação para o desempenho da equipe!”.
É exatamente a experiência dos 40+ em lidar com as mais diversas empresas, culturas e pessoas o diferencial competitivo que pode permitir às organizações encontrar soluções mais ágeis e assertivas. E tem mais: muitos deles não priorizam o salário, mas querem se sentir úteis, produtivos e pertencentes a um grupo. Eles entendem que é uma oportunidade de absorver conhecimentos, de criar e aprofundar o valioso networking.
Portanto, liderar este movimento vai muito além de convidar para dançar a música da moda. Bora festejar ações práticas, reais e contínuas. Faça acontecer agora!