Para muitos jovens, o que antes era o primeiro passo para conquistar uma vaga de emprego por muitas gerações parece ser mais um item da lista de “antiguidades”. O currículo, da forma que conhecemos, pode estar com seus dias contados por não mais responder às expectativas e exigências das novas dinâmicas de trabalho na busca por talentos mais qualificados. 

Descrever detalhes pessoais, a jornada de experiência profissional, formação, certificações, trabalho voluntário, interesses e habilidades, não vem sendo o caminho mais assertivo para preencher os gaps nas empresas. Afinal, ler tudo isso em até 20 segundos - o tempo que quase a metade (45%) dos recrutadores eliminam os currículos para uma entrevista, segundo o BNE - não é mais o suficiente. 

O impacto da IA e do Chat GPT na criação de “currículos quase perfeitos” tem reduzido o valor da informação nesses processos de recrutamento. Especialmente, quando olhamos para um cenário de mercados de trabalho restritos, muitas pressões econômicas e demandas por mais competências humanas e menos hard skills. 

No relatório global “O Futuro do Recrutamento 2024”, 73% dos recrutadores concordam que a contratação baseada em competências deve ser uma prioridade. E 67% dos brasileiros afirmam que priorizar as competências, no lugar da experiência e da formação acadêmica, é fundamental na hora de buscar novas oportunidades. No mundo todo, essa já é uma realidade para 73% das empresas, um número 17% maior do que o ano anterior.

Mas o que quer dizer tudo isso na prática? A seleção por competências prioriza as habilidades, as aptidões e as atitudes esperadas para uma função, em vez das experiências técnicas ao longo da carreira. 

Antes mesmo da hora da entrevista, o recrutador procura entender as atribuições e as expectativas dos gestores, mapeando um bom cenário de habilidades que podem ou não ser adquiridas. Visão de mundo, ambição para o futuro, personalidade, além dos valores que correspondem com a empresa, tudo é combinado nessa busca. 

Uma abordagem assim que coloca em primeiro lugar as habilidades pode trazer até 20 vezes mais perfis alinhados, com fit cultural com a empresa, e aumentar a proporção de mulheres em 24% (LinkedIn). Quando falamos de segmentos e setores com sub-representação feminina, esse modelo de seleção contribui com a criação de equipes mais diversas e inclusivas, diminuindo vieses inconscientes. 

É só pensar em áreas de TI ou de Vendas, por exemplo. São ambientes predominantemente dominados por homens e, se fizermos um recrutamento com triagem em IA, por exemplo, ele poderá reforçar uma contratação enviesada, descartando currículos e perfis de mulheres. A capacidade analítica dos recrutadores nesse sentido é essencial para diminuir os riscos e é onde a seleção por competências ganha força.

De algumas folhas A4 para um dossiê digital. Para os especialistas, a interatividade e a valorização de competências, com mais espaço para detalhes de cada candidato, terão mais relevância do que os diplomas e as informações que se procura hoje. 

Referências, cartas de apresentação, outras formas de conhecer melhor os perfis dos profissionais também serão importantes formas de filtrar, sem contar a grande notoriedade que redes como o LinkedIn conseguiram nos últimos anos. 

Na prática, não será o fim do CV, mas um aprimoramento, uma evolução como novas etapas no processo de recrutamento. A experiência e a construção da carreira nunca perderão força total, mas, certamente, as maneiras como as empresas optam por avaliar e selecionar as melhores pessoas para as suas equipes passaram por um reset. E ele começa nas habilidades. 

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