Estamos ‘’submersos’’ no trabalho?
Em um mundo onde a cultura do trabalho árduo muitas vezes é elogiada e celebrada, surge uma questão: será que é realmente […]
Em um mundo onde a cultura do trabalho árduo muitas vezes é elogiada e celebrada, surge uma questão: será que é realmente necessário se esforçar ao extremo, sacrificar o sono e mergulhar de cabeça no trabalho para ser considerado um profissional dedicado? A relação entre o tempo investido no trabalho e o desempenho efetivo é tão direta quanto parece? À primeira vista, a resposta pode parecer evidente: mais horas investidas no trabalho levam a resultados melhores. No entanto, essa noção nem sempre é tão simples quanto parece.
Vamos explorar por que frequentemente valorizamos aqueles que trabalham arduamente, mesmo que isso nem sempre se traduza em resultados de qualidade. Acompanhe!
Imagine a cena
São 17h30, e Ana está prestes a sair do escritório, vestindo seu casaco, quando uma colega a aborda com a temida pergunta: "Você já vai embora tão cedo?" Isso porque José, outro colega, nunca deixa o escritório antes das 21h. Ele está sempre envolvido em todas os projetos, parece gostar de trabalhar sob pressão, muitas vezes estendendo suas tarefas até as 23h e salvando situações aparentemente impossíveis. E ele faz questão de compartilhar essa informação com todos ao redor.
Por outro lado, Ana tem uma abordagem mais reservada e não é fã de trabalhar às pressas. Ela é conhecida por cumprir suas responsabilidades pontualmente. Ao gerenciar suas prioridades, Ana tem a habilidade de dizer "não", mesmo que isso a faça parecer contrária ao grupo.
Trabalhar muito = Trabalhar bem?
Essa é uma pergunta relevante ao considerarmos o caso de Ana e José. Quem dos dois será mais recompensado? A resposta, de fato, depende da cultura corporativa presente no ambiente em que esses profissionais estão inseridos.
Em um cenário onde apenas os resultados importam, a ênfase recai exclusivamente na conquista desses resultados. Nesse contexto, glorificar o trabalho até altas horas da noite não deveria ser o foco principal. Em vez disso, a valorização deve se concentrar naqueles que demonstram eficiência em suas abordagens.
Ana, com sua abordagem equilibrada e capacidade de cumprir prazos de maneira consistente, pode ser altamente valorizada em uma cultura que prioriza a eficiência e a qualidade. Por outro lado, José, apesar de suas horas extras e resgates de situações desesperadoras, poderia ser mais reconhecido em um ambiente onde o esforço e a dedicação pessoal são fortemente enaltecidos.
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Esforço excessivo = Desempenho = Sucesso?
Vamos falar sobre uma ideia chamada de "moralização do esforço". Em certos ambientes de trabalho, como na França, na Coreia do Sul e até mesmo no Brasil, o esforço em si é muito valorizado e recompensado, às vezes até com dinheiro extra. Isso acontece mesmo que esse esforço extra não resulte em um trabalho melhor para a empresa. É meio estranho, não é?
Essa abordagem pode parecer paradoxal. As pessoas que são mais produtivas e eficientes podem até ser "punidas" de certa forma. Isso ocorre porque a pessoa que coloca muito esforço, mesmo que não seja tão eficiente, é vista como alguém moralmente comprometido e dedicado. Isso faz com que ela seja vista como uma colega de trabalho melhor.
Em resumo, em alguns lugares, a quantidade de esforço que você coloca no trabalho pode ser mais importante do que o resultado real desse trabalho. Isso cria uma situação onde alguém que trabalha muito, mesmo que não produza muito, pode ser mais elogiado do que alguém que faz mais em menos tempo. Isso ilustra como as crenças sobre o esforço podem influenciar a forma como as pessoas são percebidas no ambiente de trabalho.
O esforço pode ser recompensado
Em ambientes altamente competitivos, há uma cultura que desafia as normas tradicionais. Nessas situações, trabalhar incansavelmente é a expectativa, e essa mentalidade está enraizada desde o começo. Isso cria uma forte ética de desempenho.
Outra dinâmica ocorre em ambientes onde a colaboração é primordial, com os membros da equipe se auxiliando constantemente. Isso pode ser observado em startups em rápido crescimento, que lutam para contratar pessoal suficiente conforme sua atividade aumenta, ou em empresas que viram seus quadros reduzidos, aumentando a carga de trabalho para todos os colaboradores
Será que devemos abandonar esse modelo a todo custo?
Não existe uma resposta única que funcione para todas as organizações. Por exemplo, se você escolher trabalhar em uma consultoria altamente competitiva, já sabe o que esperar. No entanto, as recentes ondas de demissões em massa nesses ambientes mostram que os trabalhadores, especialmente os mais jovens, estão cada vez menos dispostos a aceitar esse tipo de acordo.
Além disso, promover uma mentalidade de "seguir o ritmo" pode prejudicar certos funcionários, como jovens pais ou cuidadores, que não conseguem manter o mesmo ritmo intenso que outros. Isso pode levar a um foco mais estreito nas tarefas em si do que na ideia de "se destacar". O risco aqui é criar equipes uniformes e perder a diversidade de perspectivas.
Como sair desse ciclo exaustivo?
Os gestores têm um papel crucial nesse processo, especialmente ao moldar a cultura da empresa e ao decidir se vão ou não exaltar essa mentalidade de estar sempre ocupado (ou "submerso", para usar outra metáfora). Existem várias abordagens possíveis:
Os gestores têm um papel fundamental na definição da cultura corporativa: Isso significa que, se eles optarem por trabalhar até tarde, devem evitar compartilhar isso de maneira que influencie suas equipes. Isso ajuda a evitar que esse padrão se torne a norma. Além disso, ao não enfatizarem excessivamente o esforço extra, o foco passa a ser mais sobre a realização do trabalho do que sobre a exibição social.
É importante que os gestores não valorizem constantemente aqueles que estão sempre sobrecarregados: Em vez disso, devem incentivar a busca de ajuda quando os prazos se tornam insustentáveis e encorajar a abertura sobre as dificuldades enfrentadas. Claro, isso requer um ambiente de trabalho benevolente para ser eficaz.
Por fim, é essencial educar os clientes, principalmente em setores altamente competitivos onde os clientes frequentemente ditam as regras. No entanto, essa mudança precisa acontecer de forma gradativa, uma vez que transformações súbitas nem sempre são viáveis. Por exemplo, não é possível mudar os horários de um jeito radical. Em vez disso, é melhor realizar mudanças pequenas, como usar as sextas-feiras para trabalho interno em vez de atender os clientes. Isso é mais fácil de aceitar.