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A primeira executiva trans do Brasil: Prazer, eu existo e me chamo Danielle

No mês em que se comemora o Dia da Visibilidade Trans, o The Daily Swile Brasil entrevistou Danielle Torres, executiva e sócia da KPMG.


4 min
16 janvier 2024por Rafael Câmara

Quantas habilidades precisamos ter para nos destacarmos no nosso ambiente de trabalho? Conseguir entrar nesse mercado, cada vez mais competitivo, e crescer na carreira é um desafio diário para todos nós, mas, quando nos espelhamos em alguém, parece que essa linha, que por muitas vezes não é reta, fica mais fácil.

No mês da visibilidade das pessoas trans, o The Daily Swile Brasil foi ouvir a primeira mulher executiva trans do Brasil, Danielle Torres. Hoje, ela é sócia de práticas profissionais da KPMG, mas para chegar até aqui o caminho foi longo.

Você sabe o que é preconceito estrutural? Quem explica é a própria executiva.

“O preconceito estrutural, é quando ele não é direcionado exatamente a mim, ele é direcionado à mulher de uma forma ampla, ele é direcionado às pessoas trans, às pessoas LGBT+, então eu sinto os limites de ser quem eu sou, e por vezes eu penso, nossa, não fosse eu feminina, não fosse eu trans, não fosse eu LGBT, será que as coisas seriam mais fáceis? Eu tendo a pensar que a resposta para isso é sim”

Enfrentar esse preconceito foi apenas um dos obstáculos que Daniele teve que lidar em décadas de carreira.

“Eu acho que a principal delas foi eu conseguir perceber mesmo quem eu era, né? Porque eu passei a carreira inteira, sabe, sendo lida como a diferente, né? Então, tipo, putz, seus comportamentos são diferentes, né? As pessoas ficavam assim, indagando, será que você é homossexual, tudo mais. Eu acho que esses anos, que não foram poucos, acho que foram uns 10, 12 anos de carreira que eu estava nessa situação, foram para mim os mais difíceis, na verdade, né?”

Mesmo com tantas dificuldades, a executiva, que é formada em ciências contábeis e administração, entrou para a lista das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg.

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“Eu sempre consegui me desenvolver, mas em outra velocidade, uma velocidade muito menor e com muito mais dificuldade. Eu acho que o principal era um momento que eu pensei muitas vezes em desistir da carreira, né? No sentido de não achar que eu encontrava ali um local de eco.”

Ainda bem que Danielle não desistiu. Hoje é inspiração não só para pessoas transexuais, mas principalmente mulheres.

“O meu desenvolvimento no mercado de trabalho como pessoa trans, e até alcançar uma posição de visibilidade em relação à minha própria comunidade, foi absolutamente acidental. Não é um negócio que eu planejei, mas eu acho que, sim, ficou um senso de missão que eu desenvolvi. Eu contribuo para um mercado mais diverso, para um mercado mais inclusivo”, explica Danielle. 

E esse mercado formal de trabalho ainda precisa de muita diversidade, já que a comunidade LGBT+ ainda luta por serviços básicos como saúde, segurança e alimentação.

O Brasil é o país que mais mata e deixa matar pessoas transexuais e ainda há muitas empresas que não se sentem preparadas para integrar essa população de forma efetiva no meio corporativo. O reflexo disso é que, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), 88% das pessoas não veem empresas como espaços prontos para contratar profissionais trans e aproximadamente 20% do grupo está desempregado.

“Ainda é raro a gente ir em um local, ser atendido ou atendida por uma pessoa trans, é raro a gente ver pessoas trans em posição de liderança. É claro que eu preciso reconhecer que muita coisa mudou, muita coisa melhorou, a gente não está falando mais o que a gente costumava falar há 5, 10 anos atrás e isso pode dar uma leve impressão de que as coisas estão diferentes hoje em dia. Elas estão, mas ainda existe um caminho longo, um caminho longo de aprendizado”.

Aprendizado para combater o preconceito social que afeta diretamente as oportunidades de emprego para as pessoas trans. Hoje, mesmo com qualificações semelhantes ou até superiores às pessoas cisgêneras, a impressão que temos é que essa tão sonhada vaga não chega até elas.

“A gente falando da inclusão das pessoas trans como uma via de mão única, não, nós vamos ter um programa para contratar pessoas trans e é uma via de mão dupla, como qualquer relação de trabalho. estamos no caminho certo, estamos ampliando, estamos discutindo, principalmente quando a gente fala de empresas de liderança mesmo, que possuem uma envergadura e funções de diversidade claras, mas tem muito caminho pela frente, essas não são todas as empresas, e mesmo nessas, a hora que a gente começar a falar de ascensão à liderança, acho que o assunto ainda nos mostra que o caminho pela frente é longo.” 

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Rafael Câmara

Colunista

Formado em Comunicação Social – Jornalismo, com ampla experiência em gestão e planejamento de comunicação e especialista em Diversidade, equidade e inclusão.

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