mundo do trabalho

Anatomia da queda da confiança na era da desinformação

Uma trama quase impossível de ser ignorada: estamos diante da reconstrução da confiança. Seja no dia a dia, com os modelos híbridos de trabalho e a flexibilidade, seja com a adoção de IA Generativa na produção de conteúdo e novas ferramentas de produtividade, seja na era da desinformação e fake news, os esforços de uma boa liderança estão sendo redesenhados. Assim como o filme vencedor da Palma de Ouro e do Oscar, a artificialidade da informação, a complexidade da transparência e a busca pela verdade nos convidam a refletir sobre como estamos moldando a nossa realidade. 


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Há alguns meses, o Fórum Econômico Mundial em Davos nos alertou para a desinformação como um dos maiores desafios e riscos para os próximos anos, com a expansão do uso de Inteligência Artificial e a polarização política. Relatórios recentes fazem coro a isso, com pesquisa da KPMG apontando que 49% dos brasileiros sentem medo e 82% expressam uma preocupação com os riscos do uso da tecnologia, como segurança cibernética, manipulação imprópria ou perda de emprego pela automação. Então, estamos nos tornando mais desconfiados? 

Em partes, sim. O ceticismo é uma crise global, e as notas nas redes sociais abaixo de imagens ou notícias falsas para evitar a disseminação na era do deepfake, por exemplo, mostram-se cada vez mais necessárias. Checar fontes de informação ainda é um exercício a ser estimulado, mas e quando a falta de confiabilidade está não só numa mensagem, mas nas atitudes de não confiar em seu líder ou se o seu liderado está executando as tarefas? 

Construindo relações confiáveis

Segundo dados da Gallup, apenas três em cada dez pessoas acreditam em seus líderes. Em 2022, uma outra pesquisa trouxe o outro lado da moeda: 85% dos líderes têm dificuldade para acreditar que seus funcionários estão sendo produtivos (Índice de Tendências do Trabalho de 2022 da Microsoft). A volta do modelo presencial, as dificuldades com o engajamento em relações de trabalho home/anywhere office, os novos questionamentos como a Semana de 4 dias, a Geração Global, com talentos de todos os lugares do mundo e diferentes culturas, tudo isso movimenta o nosso olhar para uma questão mais central: a construção de confiança. 

E, olha, nós brasileiros temos dificuldades mesmo de confiar nas outras pessoas. É sério. De acordo com a pesquisa global da Ipsos realizada com mais 22.500 entrevistados de 30 países, o Brasil ficou em último lugar (11%) quando fomos questionados se confiamos no próximo. Mas se o assunto é IA, o país tem um dos mais altos níveis de familiaridade comparado com o resto do mundo (81%) e também confia mais na tecnologia (94%), superando países como Estados Unidos e Reino Unido, líderes de investimentos na área (Oliver Wyman). 

Nessa lógica, o conceito de confiança parece despertar múltiplas facetas que estão se relacionando com um novo tempo para o mundo do trabalho: transparência corporativa, intencionalidade na aprendizagem e autonomia para as pessoas. Não há como criar ambientes mais colaborativos, criativos e inovadores sem entrelaçar essas ideias em novos arranjos. Ou seja, para encarar momentos incertos, voláteis e em constante mudança, com o avanço da tecnologia, a mentalidade tem que ser outra. 

A redação recomenda

Transparência, intencionalidade e autonomia para cooperação

Esse fluxo acelerado precisa focar no bem-estar comum e sustentável. Nesse sentido, só se constrói credibilidade com compromissos éticos e reforço da transparência no uso de novas tecnologias. É aí que entra a regulamentação da IA e outros recursos de combate a notícias e informações manipuladas digitalmente, para que a inovação não seja vista com receio e medo, mas utilizada de forma inteligente em seu propósito de melhorar as condições de trabalho e a acessibilidade

E como fazer tudo isso? São muitas perspectivas, mas a aprendizagem contínua é uma alternativa de alto valor não só para a adaptação das empresas, como também para a requalificação profissional, para a cooperação e para a geração de vínculos mais fortes dos talentos com as empresas. De novo, confiança. Promover espaços onde as pessoas acreditem na intencionalidade, com programas de capacitação consistentes que possibilitam a melhoria dos resultados, com impulso à inovação e estímulo à produtividade. A consequência inevitável de tudo isso é a preparação de lideranças mais confiáveis que garantem a autonomia dos seus times. 

Isso porque quando se alimenta uma cultura de flexibilidade e a liberdade, com pessoas mais autônomas para tomadas de decisão, há um empoderamento, uma maior motivação e um ambiente de trabalho mais saudável e colaborativo. Para se ter uma ideia, numa pesquisa feita pela Page Talent, cerca de 58% dos brasileiros disseram que desenvolvem as suas funções mais fácil e buscam por inovar mais no time quando podem atuar de forma mais independente.

Sem receitas prontas, mas sem medo de arriscar

A regra do jogo para encarar tantas complexidades não vem pronta, mas pode encontrar algumas peças-chave na capacidade de se relacionar com o fator humano e com intenção. Fazer o "feijão com arroz" muito bem aqui é não ignorar o poder da comunicação na construção de uma cultura mais forte. Reuniões one-on-one, feedbacks contínuos, treinamentos para lideranças, são velhos conhecidos pelos gestores, mas precisam ser reforçados na era da desinformação.

Assim, com a chegada dos novos modelos de trabalho e das tecnologias mais ágeis, a "queda" da confiança é, na verdade, uma oportunidade de redesenhar a realidade e construir novas narrativas. Encarando os riscos, aprendendo a experimentar, estudando a forma e a estrutura desse novo tempo como um organismo vivo em constante evolução. Em todas as suas partes, do indivíduo ao coletivo.

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Lucas Ericlyn

Editor de Conteúdo

Sou um conteudista apaixonado pelas palavras, cultura e inovação. Aposto nos artigos e nos textos como um esportista nas suas habilidades, um […]

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