Ageísmo: um problema global que custa bilhões
Estima-se que cerca de metade das pessoas no mundo possua “atitudes moderadamente ou fortemente preconceituosas”. Esse dado alarmante é proveniente de um […]
Estima-se que cerca de metade das pessoas no mundo possua "atitudes moderadamente ou fortemente preconceituosas". Esse dado alarmante é proveniente de um relatório co-autorizado pela ONU e OMS.
Agora, imagine: ao descer a rua e contar as pessoas, a cada duas pessoas que você encontrar, é provável que pelo menos uma delas tenha, ou já tenha tido, uma "atitude moderada ou fortemente preconceituosa". E, às vezes, essa pessoa pode até ser você.
O que é ageísmo?
É “categorizar e dividir as pessoas de uma forma que resulte em dano, desvantagem e injustiça”, define a OMS. Podemos encontrar diferentes faces: “atitudes preconceituosas, atos discriminatórios e políticas e práticas institucionais que perpetuam crenças estereotipadas”.
Embora muitas vezes pensemos no preconceito de idade como discriminação contra pessoas mais velhas, a OMS enfatiza que "tanto as pessoas mais velhas quanto os jovens adultos são muitas vezes desfavorecidos no local de trabalho e o acesso a treinamento e educação de habilidades diminui acentuadamente com a idade". Portanto, é importante reconhecer que o ageísmo afeta diferentes faixas etárias e pode ser prejudicial em várias esferas da sociedade.
Ageísmo no Brasil
Aqui no Brasil os dados mostram que o etarismo começa até mesmo antes das pessoas chegarem à terceira idade: 16,8% dos brasileiros com mais de 50 anos já se sentiram vítima de algum tipo de discriminação por estarem envelhecendo
‘’O ageísmo se manifesta de várias formas. Essas atitudes e ações dificultam a aceitação e acentuam a negação da velhice. A discriminação por idade é mais forte em sistemas onde a sociedade aceita a desigualdade social.’’ - Vania Herédia, presidente do departamento de gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia)
Um estudo realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua mostram que o desemprego entre os idosos seguiu um gráfico em ascensão nos últimos anos, passando de 18,5% em 2013 para 40,3%. Além disso, nos atuais dados do IBGE, 41% do total de ocupados estão na informalidade.
Por que lutamos com a idade?
Muitos clichês são atribuídos aos idosos: muito caro, saúde frágil, desmotivação, desatualizado tecnologicamente.
Para Ana Laura Medeiros, geriatra do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB "O envelhecimento é um processo inexorável e traz desgastes naturais. E isso é interpretado erroneamente como um estado global de fragilidade e perda de independência e autonomia. É importante frisar que o envelhecimento varia de pessoa para pessoa e os idosos não são todos iguais"
Cotidiano de muitos "veteranos", como Eliete dos Santos Azevedo, de 59 anos, que trabalhou por anos na área de atendimento ao cliente em redes sociais e foi demitida sob a justificativa de "cortes de custos por causa da crise", ela compartilha suas experiências de tentar se reencaixar no mercado de trabalho: "A idade pesa. Ontem mesmo entreguei um currículo para trabalhar em uma loja e disseram que só contratam mulheres jovens. É muito triste ter de passar por um constrangimento desses", conta em entrevista.
Ageísmo custa bilhões de dólares
No mesmo relatório, a ONU apresenta números reveladores. De acordo com um estudo australiano citado na pesquisa, se 5% a mais de pessoas com mais de 55 anos estivessem empregadas haveria um impacto positivo de 48 bilhões de dólares australianos (30 bilhões de euros, nota do editor) na economia nacional a cada ano.
Ainda de acordo com a ONU, “o preconceito de idade contra jovens e idosos é um problema generalizado, não reconhecido e não abordado, que tem profundas consequências para nossos sistemas econômicos e nossas sociedades”.
A OMS acredita que a formulação de políticas públicas e a promulgação de leis pode ser uma estratégia eficaz para reduzir ou eliminar o preconceito contra a idade nos países, junto com intervenções educacionais e o estímulo a atividades de interação entre gerações. A organização faz três recomendações às nações no combate ao ageismo:
- Elaborar pesquisas para compreender melhor o preconceito contra a idade e como reduzi-lo.
- Investir em estratégias para prevenir e responder ao preconceito contra a idade.
- Lançar campanhas para mudar a narrativa em torno da idade e do envelhecimento.